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Por Fabiani Fortes, Colunista
Em cada esquina do Brasil, a influência da cultura negra pulsa em ritmos, sabores e histórias. É impossível imaginar o que somos como nação sem as contribuições da África, profundamente enraizadas na alma brasileira. O dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, marca um momento para refletir, celebrar e considerar as vozes que transformam nosso país – mesmo diante de adversidades imensuráveis.
Zumbi dos Palmares, cuja morte é lembrada nesses dados, personifica a resistência. Líder do Quilombo dos Palmares, sua luta contra o sistema colonial é um lembrete do poder de se opor à injustiça. Mas Zumbi não estava só. A resistência negra tem vozes femininas que, em diferentes épocas, escolheram a educação como sua trincheira. Mulheres que, com coragem e sabedoria, desafiaram estruturas racistas para moldar um futuro mais igualitário. Vamos a elas.
Iniciamos com Antonieta de Barros. Imagine Santa Catarina nos anos 1930: uma mulher negra, jornalista e professora, erguendo sua voz em um parlamento dominado por homens brancos. Antonieta de Barros foi essa mulher extraordinária. Como primeira deputada negra do Brasil, ela acreditava que o caminho para a emancipação era a alfabetização. Seu legado inclui a criação de cursos gratuitos para trabalhadores, iniciativas que abriram portas para muitos que, até então, não tinham sequer uma janela de oportunidade.
Antonieta nos ensina que educar é um ato político. É plantar sementes de igualdade, mesmo quando o solo parece infértil. Sua história ressoa em um país onde o direito ao aprendizado ainda é um privilégio negado a muitos.
Agora, viaje até São Paulo das décadas de 1950 e 60, para conhecer Carolina Maria de Jesus. Moradora da favela do Canindé, Carolina não teve uma educação formal extensa, mas isso não impediu de se tornar uma das escritoras mais importantes do Brasil. Seu diário, publicado como Quarto de Despejo, desnudou a miséria e as excluídas enfrentadas pelos marginalizados.
Carolina não apenas documentou a desigualdade; ela educou uma nação. Sua obra é uma aula de empatia, uma lição que reverbera até hoje, lembrando-nos de que a educação não acontece apenas dentro de quatro paredes.
Avançamos no tempo para encontrar Marielle Franco, uma mulher que transcendeu a política tradicional. Nascida na Maré, no Rio de Janeiro, Marielle dedicou sua vida a projetos educacionais voltados para jovens negros e periféricos. Ela acreditava que a educação era a chave para a consciência política e o empoderamento.
Sua voz foi silenciada, mas o eco de suas ações continua. Marielle não apenas estudou; ela mostrou que a transformação social começa com a valorização das histórias e experiências dos invisibilizados.
Essas mulheres são exemplos de que a educação pode ser uma arma mais poderosa contra a desigualdade. Eles não apenas ensinaram conteúdo, mas ensinaram coragem. Foram arquitetas de um Brasil que, apesar de suas contradições, ainda podem sonhar com justiça social.
No Dia da Consciência Negra, ao celebrar a herança de Zumbi, que também pensamos nas mãos femininas que construíram pontes onde antes havia muros. O legado de Antonieta, Carolina e Marielle é um convite à ação: que cada um de nós, à sua maneira, eduque, resista e transforme.
Porque, no fim das contas, cada dia de consciência é um dia de resistência. E cada ato de educação é um passo em direção à liberdade.