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Leci da Silva
03/01/2023
Tempo de leitura: 8 minutes
Múltipla e talentosa, Micheli Machado é atriz e comediante com destaque recente no papel de Jandira, do folhetim global “Quanto Mais Vida, Melhor!”, e também celebra sua estreia em “Todas as Flores”, a primeira novela produzida pela da TV Globo para o Globoplay. Com a sua nova personagem Chininha, a atriz contracena ao lado de grandes personalidades, como Zezé Barbosa, Xande de Pilares, Thalita Carauta e Mumuzinho.
Micheli também é a primeira mulher preta da América Latina a ter um especial de stand-up em streaming, ela pode falar dos projetos atuais, e como tem quebrado paradigmas na atuação com seu pioneirismo no humor.
DB: Atriz e humorista, Micheli Machado começou muito cedo no mundo publicitário e televisivo, tendo, em consequência, atualmente, bastante experiência no chamado “mundo artístico”. Como foi a infância de uma menina que com sete anos já fazia comerciais e a adolescência de quem muito nova “atuava” na TV ao lado de estrelas como Angélica? O que fez falta em sua infância e adolescência?
Micheli Machado – Em relação aos trabalhos na TV, tive uma infância e adolescência muito feliz e guardo as melhores recordações. Vim de família humilde, meu primeiro comercial de TV foi para a boneca Barbie, foi a primeira vez na vida que vi uma Barbie original, brinquei tão feliz com a boneca que passei no teste, eu encarava tudo como uma grande brincadeira. Mesmo com as dificuldades de conciliar escola com as gravações, era incrível ser Angelicat e trabalhar ao lado de artistas que sempre admirei, como a Angélica. Éramos como uma família e até hoje mantenho contato com todas as Angelicats da época, criamos um amor muito grande e por isso lembro com tanto carinho da minha infância e adolescência.
DB: Como era sua convivência com outras meninas e meninos da sua idade? No colégio? Na sociedade? E até na família? Irmãs? Irmãos? Primos? Primas?
Micheli Machado – Era uma convivência tranquila como a de qualquer adolescente, a diferença é que no grupo eu era a única que já trabalhava e ajudava em casa. Mas, era um relacionamento muito saudável e divertido, obviamente tinham algumas pessoas em alguns locais que não eram tão saudáveis, porém eu buscava estar cercada das pessoas que gostavam de mim e me relacionar com as pessoas que me queriam bem. Ou seja, uma adolescente normal, que tinha amigos e obviamente também tinham pessoas que não gostavam de mim, simplesmente pelo fato de eu trabalhar na televisão. Eram mais ignorantes em alguns casos no bairro, na escola e com a família era tudo mais fácil. Mas, no bairro era mais difícil e mais complicado porque muitas mães assim de amiguinhas e também de vizinhas, vinham em casa para tirar satisfação com a minha mãe, dizendo: “porque que minha mãe estava fazendo isso comigo, e me levando para fazer comercial e trabalhar na televisão, se ela não via que ela acabava me dando uma esperança de algo que nunca ia acontecer eu nunca ia conseguir ter nenhum mérito na carreira porque eu era preta, pobre, feia e não tinha como uma menina preta, pobre e feia construir uma carreira na televisão”. Enfim, acabei ouvindo isso durante muito tempo na minha infância, na minha adolescência, e foi ruim lógico porque são marcas que deixam ranhuras, e isso são coisas que eu trato até hoje na terapia, auto estima.
DB: O que iniciar a vida profissional cedo trouxe de bom para a vida e para a carreira de atriz e humorista?
Micheli Machado – Quando iniciamos cedo em alguma profissão, a tendência é que a gente sinta, com o passar do tempo, cada vez mais preparados para continuar evoluindo. A carreira de atriz é algo dinâmico, exigindo de nós sempre aperfeiçoamento em diversas áreas de atuação, com muito foco e disciplina. O humorista pode interpretar papéis de forma espontânea, e muitos atores também precisam estar aptos, quando solicitados, para exercerem diferentes funções. Entendemos que a melhor opção para se qualificar é estar em constante aprendizado, sentindo-me realizada por saber que desde cedo estou construindo uma jornada de sucesso, pautada em esforço, dedicação e comprometimento. Por ter iniciado cedo a minha vida profissional, tive a oportunidade e mais tempo para me aprimorar e descobrir-me artisticamente.
DB: Atuar como atriz e humorista desenha um limite muito tênue e, às vezes, imperceptível entre tais atividades. Sendo que ainda é possível exercer ambas as profissões concomitantemente. Você vê alguma dificuldade nisso? Há alguma intenção de “especializar-se” em uma área de atuação?
Micheli Machado – Antes de me encontrar no humor, acreditava que não tinha jeito para seguir na comédia e queria me expressar em uma arte “mais séria”, como o drama, por exemplo. Sempre ouvi coisas como ‘só é bom ator quem faz drama, pois tem profundidade’. Mas depois entendi que isso fazia parte da indústria, que não leva o humor e o comediante a sério e, no início, inconscientemente, agarrei-me nessa percepção. Sou a primeira mulher preta da América Latina a ter um especial de stand up em streaming, O “Lugar de Mulher”, na Netflix, e quando vejo toda a minha trajetória, creio que já tenho uma especialidade, que é na área da comédia. Atuar também é incrível e sempre foi algo que idealizei, ter a oportunidade de conciliar os dois é gratificante!
DB: Há uma certa tendência de pessoal da TV relacionar-se com pessoal da TV, até pela proximidade e pelo grande tempo que, muitas vezes, trabalham junto ou próximo. Para você parece que não foi diferente. Pode nos contar sua história com o também ator Robson Nunes? Como se conheceram? Como se aproximaram? Como chegaram à conclusão de que eram um para o outro? Etc. (Talvez especialmente o etcétera)
Micheli Machado – Conheci o Robson por meio da minha amiga Geovanna Tominaga, que também foi Angelicat, ela inclusive foi a nossa madrinha de casamento. Conheci ele durante as gravações de “Malhação”; assim como o Robson, ela também fazia o folhetim na época e, como eu participava do Vídeo Show, sempre nos encontravamos no final das gravações, para irmos embora juntas, até que um dia, indo procurar ela, eu vi o Robson, ele soltou uma graça mas eu não liguei muito e depois não nos vimos mais, até que certo dia nos encontramos em um teste e eu peguei o telefone dele, só que número ficou no texto do teste e por isso não consegui ligar, mas ele conseguiu meu número meses depois. No nosso primeiro encontro cheguei atrasada e com a minha irmã, ele avisou que ia nos levar para um restaurante árabe e nos levou para o Habib ‘s, comprando duas pizzas! haha. Desde então, somos um casal que me orgulho muito. O Robson sempre incentivou a minha carreira e foi meu companheiro para tudo na vida, juntos tivemos a Morena e hoje sou extremamente feliz e completa com a família que temos.
DB: Atuando em novelas, filmes, stand ups e grupos de comediantes, pode nos falar sobre suas pretensões como atriz e/ou comediante? Qual seu objetivo nessas atividades?
Micheli Machado – Para o mercado isso é muito importante e positivo, de certa forma é uma pretensão estar qualificada em ambos os segmentos, levando uma diversidade de conteúdo para diferentes públicos. Acredito que isso faz com que aconteça uma grande transformação, meu objetivo é seguir valorizando os artistas que são amplos e conseguem atuar em diversas áreas, também quero ter a oportunidade de trabalhar em todas as vertentes que a arte me permite. Vejo isso como um ponto positivo na minha carreira, também sou grata por conquistar reconhecimento com o meu trabalho em diferentes projetos, formatos e gêneros.
DB: Qual a mensagem que podes deixar para os leitores da Revista Diário de Bordo?
Micheli Machado – Gostaria de agradecer pelo carinho e atenção a todos que leram essa entrevista até aqui, é um prazer poder compartilhar minha história com vocês. Além disso, também quero deixar um convite especial: no dia 17 de outubro, estreia ‘Todas as Flores’, a nova novela do Globoplay, na trama eu interpreto Chininha, uma jovem moradora de Gamboa, no Rio de Janeiro, que sonha em se tornar atriz. Faço parte do núcleo de humor ao lado de grandes artistas, como Zezeh Barbosa, Mumuzinho, Xande de Pilares, Thalita Carauta, Douglas Silva e Mary Sheila. Todo o folhetim foi gravado com muito carinho e tenho certeza de que vocês vão se divertir!
